Na exposição “A Máquina do Mundo” o ponto de partida é o embate entre a construção da memória e do imaginário local brasileiro e as representações globais permeados pelo inconsciente colonial coletivo. Nessa encruzilhada a questão ambiental se confronta com os modelos extrativistas hegemônicos sob o qual se ensejam a luta pela posse da terra e pela sobrevivência de diversos povos locais, o nosso inclusive. A partir de qual condição experimentamos o território e como podemos redesenhar a idéia de nação que se abra às diversas alteridades, saberes e formas de produção de sentido locais?
As esculturas e intervenções presentes na mostra buscam estabelecer um campo relacional entre a noção de território (no sentido macro-político), e o corpo – compreendido como própria extensão micro-política desse território onde se imprimem memórias e experiências de dominação, criação e resistência. A simplicidade das montagens e o emprego de materiais residuais encontrados na paisagem reforçam o sentido de precariedade dessa relação ao mesmo tempo que sublinham a força do gesto como possibilidade transformadora.

Exposição
Centre Régional de la Photographie, 2019
Local
Douchy-les-Mines, França
“A Linha que nos divide” é um trabalho elaborado com cacos de vidro encontrados na praça ao lado do CRP durante o período da residência. Como esses cacos muitas vezes decorrem de ações de depredação do espaço do CRP, o coletivo os entende como reflexo de mundos que, por não serem compartilhados cultural e socialmente, geram conflitos. O procedimento do Bijari para a execução do trabalho recorre ao mapa da América do Sul para encontrar aí a linha imaginária que separa o Brasil da Guiana Francesa, colônia francesa na América do Sul. A linha fronteiriça será então reproduzida a partir dos cacos de vidro recolhidos, propondo abordar zonas de contato – e de conflito – existentes entre ambas as culturas, brasileira e francesa e também, simultaneamente, entre o museu e a rua.
“The Line That Divides Us” is a piece made with shards of glass found in the square next to the CRP during the residency period. As these shards often result from actions of depraving the space of the CRP, the collective understands them as a reflection of worlds that, because they are not shared culturally and socially, generate conflicts. Bijari’s procedure for carrying out the work uses the map of South America to find there the imaginary line separating Brazil from French Guiana, French colony in South America. The border line will then be reproduced from the shards of glass collected. , proposing to address zones of contact – and conflict – existing between both Brazilian and French cultures and also, simultaneously, between the museum and the street.
” Resistência” instalação com coturnos, ervas daninhas locais, terra e sistema de irrigação automatizado. 2019
Na obra “Bandeira”, uma bandeira do Brasil é instalada dentro de um dos maiores túneis urbanos do país e deixada lá durante meses.
O processo lento e contínuo de escurecimento pela intensa fuligem emitida pelos carros que por lá passam diariamente é registrado em diversas fases.
In the piece “Flag”, a Brazilian flag is installed inside one of the largest urban tunnels in the country and left there for months.
The slow and continuous process of darkening by the intense soot emitted by the cars that pass by daily is registered in several phases.
bandeira 193 x 96cm + impressão fotográfica 50 x 40 cm
photo: Mathieu Harel Vivier

Detalhe da impressão fotográfica que registra o processo da obra. Foto: Maurício Brandão

A intervenção “Puxadinho” (uma gíria portuguesa pra se referir à uma construção anexa, geralmente de pequeno porte, feita de maneira precária e improvisada) cria um prolongamento do espaço da galeria em relação com o espaço público da praça adjacente. Ao destrancar uma porta no anexo da Galeria, o público da praça pode aceder ao CRP de uma forma direta e anônima, sem a liturgia impessoal da recepção de uma galeria. A intervenção se completa com “Coletivo” onde cadeiras de praia são amarradas umas às outras através de um cabo de contas. Essas cadeiras podiam ser organizadas de diferentes maneiras pelo público, uma vez que chegassem à um acordo, dentro ou transportadas pra fora da galeria através da porta aberta.
“Wajãpi”
(em co-autoria com Victor Moryiama)
Instalação áudio-visual acompanha o cotidiano de uma tribo indígena Wajãpi em simbiose com o meio-ambiente e com outras comunidades ribeirinhas no Amapá.
Diante do processo de invasão de suas terras a comunidade se mobiliza com outras grupos locais em protestos que culminam na participação do Acampamento Terra Livre, em Brasilia.
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Audiovisual installation follows the daily life of a Wajâpi indigenous tribe in symbiosis with the environment and other riverside communities in Amapá.
Faced with the process of invasion of their lands, the community mobilizes with other local groups in protests that culminate in the participation of Camp Terra Livre in Brasilia.
video 3 canais, cor, 14’ 04”
2019
imagens: Victor Moriyama e Edu Duwe
sonorização: Guilherme Chiappetta
Ficha Técnica
Equipe de criação:
Geandre Tomazoni
Maurício Brandão
Design e arquitetura:
Thalissa Bechelli
Nathália Lima
Comunicação
Diego Bis
Curadoria
Muriel Enjalran
Fotos
Mathieu Harel Vivier